Feira Nordestina
Incorporada pelo paulista, Cultura arretada dribla frio e reclamação de morador
Um fim de semana de novos ares, sabores, linguajares. A II Feira Regional de Cultura Nordestina, realizada pela AGCIP, em Monte Alto, de 17 a 19 de setembro, através de emenda de R$ 40 mil da deputada estadual Beth Sahão, reafirma-se como evento que marca saberes e fazeres culturais daquela região. Vale destacar que a realização foi compartilhada com o vereador e radialista Carlos Alberto de Alencar, de origem nordestina.
É complexo, por isso simples: o Nordeste, por estar mais distante do capital que aliena, do gerador de créus e da ditadura do Ter (dinheiro, roupas, carro, celular) como destaque social encontra, no paradoxo da pobreza física, espaços para receber e incorporar a cultura de seu povo.
Exemplo disso são os nordestinos que vieram ao estado de SP, como base do trabalho pesado que erige monstros de concreto – símbolos do que se entende por ‘progresso’ na atualidade – em que as linhas de montagem avançam à ideologia e grupos sociais (estudantes, políticos, líderes religiosos) se sentem parte de um grande nada – imersos na inércia cultural que segue o lema “dividir (a identidade cultural, a mente humana), para conquistar (novos consumidores, de produtos e ideias)”.
Talvez essa inércia cultural gere o desgosto que tomou conta de um morador do Centro, que talvez entenda a realização da Feira como “barulho”, chegando com a polícia, logo após às 22h, e pedindo para que parasse o belo evento – que se estendeu por conta do filme.
O morador estava no seu direito; mas e o entretenimento daquele coletivo lá presente? Trata-se de importante confronto ético e público, ligado ao bom senso, que vai além da Lei.
Compressor
Por um fim de semana, olhares mais atentos puderam sentir essa precária atmosfera de aparências cair por terra. Na sexta, a abertura se deu com a beleza dos cerca de meio século de pesquisa do GODAP – Grupo Olimpiense de Danças Parafolclóricas “Cidade Menina Moça”, comandado pela professora Cidinha Manzolli.
Foi uma sequência arrebatadora de danças nordestinas, com as sandálias (as alpercatas) soando o xá-xá-xá no chão da Praça Central, onomatopeia que deu origem ao nome Xaxado, dança do alto sertão de Pernambuco, dos homens de Lampião; o GODAP ainda passou pelo Coco, Baião e cia.
Logo depois, mais uma revelação nordestina: vindo de Taquaritinga, Daniel dos Teclados — que fez sucesso no Espaço Culturando da AGCIP na Festa do Peão de Barretos 2010 — desfiou pérolas do forró, além de composições próprias marcadas pelo duplo sentido, comum das produções populares.
Fechando a primeira noite o palco da Praça Central recebeu o trio de forró Pé-de-Serra que tocaria todas as noites — o grande sucesso da 1ª edição da Feira; deles falamos depois.
Frio
No sábado, a Feira Nordestina contou com dois obstáculos: o frio que tomou conta da cidade e reclamação de um morador sobre o “barulho” das manifestações culturais.
Ainda assim, bom público assistiu ao filme “Lula, o Filho do Brasil”, mais uma novidade da programação do evento, que contou com o grupo Prego Batido, trazendo os mais variados ritmos nordestinos.
Fechando a noite de sábado e de domingo, o Trio Araçá: se Fuscão (Zabumba) e Boka (Triângulo) são excelentes (músicos e pessoas), Maicon Fuzuê – montealtense de berço e nordestino de alma e família, é um fenômeno no acordeão, a popular sanfona.
Do menino que tomava cascudos do avô para tocar sem olhar no instrumento, dos parentes que faziam grandes saraus forrozeiros em Monte Alto, do garoto que ombreava, de um lado, a caixa de engraxate, e do outro, uma sanfoninha; hoje o Nordeste se curva a seu estilo universal de tocar, amealhando jazz, blues e choro ao toque irresistível do pé-de-serra: por isso foi eleito, por duas vezes, o melhor do Brasil no consagrado Festival Nacional de Itaúnas – ES.
Nessa noite, toda essa expressão teve que se encerrar antes do fim do repertório: acompanhado da polícia, um morador reclamou do que chamou de “barulho” e a Feira Nordestina teve que acabar antes do fim do belíssimo repertório do trio.
Seresta
No domingo ainda rolou, além do Trio Araçá, que brilhou no fechamento da Feira, os Seresteiros dos Sonhos, que vem encantando por onde passam, com amplo repertório baseado na música brasileira.
Os Seresteiros, comandados por Alencar e pelo Prof. Pinheiro (atual diretor do DEL), além de homenagear, nesse ano, o século de nascimento de Adoniram Barbosa e Noel Rosa, também desfilam clássicos nordestinos, como do Rei do Baião, Luiz Gonzaga: foi mais um grande sucesso que havia se apresentado, junto à AGCIP, no Palco Culturando da Festa do Peão de Barretos 2010.
Isso foi o pouco que se pode deixar, em palavras, sobre a I Feira Regional de Cultura Nordestina, realização da AGCIP – Associação de Gestão Cultural no Interior Paulista “Prof. Gilberto Morgado” e do vereador Alencar, contando com emenda parlamentar da deputada estadual Beth Sahão e apoio do deputado Vicente Cândido, que investiu cerca de R$ 500 mil em cultura no interior paulista em seu último mandato.
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