10 de setembro de 2010

Caipiras de SP são destaque no Rio

AGCIP e Os Independentes levam Queima do Alho para os Arcos da Lapa, tradicional centro histórico carioca

 

Entre os dias 4 e 6 de setembro, o Rio de Janeiro sediou o “Encontro da Diversidade – Independência da Cultura”. O evento, que aconteceu na Fundição Progresso e contou com um palco montado debaixo dos tradicionais Arcos da Lapa, movimentou a região central do Rio e trouxe participantes de todo o Brasil.

 

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Logo na noite de abertura, a diversidade e a identidade cultural brasileira foram representadas em um show alegre e emocionante chamado Chegança Diversa.

Ao longo dos dias, o Encontro da Diversidade organizou rodas de convivência que trataram de oito temas. No de diversidade e identidade, Luiz Felipe Nunes de João Roberto da Silva integraram debates sobre preconceito junto a representantes das Benzedeiras das Missões (RS), Bonecos de Mamulengos (PE), Movimento LGBT, Pessoas com Deficiência, Quilombo de São José (PB), Ciganos (RJ) e Hip-Hop (com GOG, de Brasília).

 

A dupla montealtense destacou o Caipira paulista, através dos processos sociais que o marginalizaram, até sua valorização relativa, após os movimentos do tropeirismo (século XIX) e do peão de boiadeiro (primeira metade do século XX).

 

Além dos dois, representantes da AGCIP – Associação de gestão Cultural no Interior Paulista “Prof. Gilberto Morgado” e Os Independentes coordenaram a ida de duas comitivas à capital carioca, para defender a cultura paulista através da culinária caipira da Queima do Alho, com direito à Moda de Viola da dupla Salles e Guilherme e de Guilherme Tenório, além das declamações de Jota Carvalho.

 

Almoço Cultural

 

Além da programação oficial, o evento também contou com uma programação paralela. Todos os dias, na hora do almoço, os participantes puderam se divertir e conhecer novas musicalidades. Foram shows que buscavam ousadia pela mistura, como o de um índio guarani que cantou com um lavrador de descendência sul-européia.

Ainda, para embalar o almoço dos participantes do Encontro da Diversidade, foi convidado foi Guilherme Tenório, de Monte Alto. Como diversidade sugere troca, partilha e interação, acompanharam o som da viola caipira de Guilherme as castanholas do cigano Orlando Gomes Carneiro, representante do clã Kalon, do Rio de Janeiro e o mestre de boneco mamulengo José Lopes, de Glória Goitá, Pernambuco.

 

Guilherme, aos 18 anos, toca desde os 10; há um ano canta profissionalmente e já ganhou prêmios nos Estados Unidos além de aberturas da Festa do Peão de Barretos, nas noites de competição. Ela lamenta o fato da música de raiz estar se perdendo e acredita que seu trabalho pode mudar essa realidade. “Infelizmente, os jovens hoje estão ouvindo muita música ruim”, opina.

 

Orlando Gomes, que subiu ao palco para acompanhar com suas castanholas a viola caipira de Guilherme, vê magia no Encontro. “Um evento que reúne todas as culturas é a chave da porta da frente para nós que vivemos reprimidos na sociedade. Nossa luta é por reconhecimento, somos gente igual a todo mundo, o que nos difere são nossos costumes. Abriram a porta para nós e estamos agora abrindo a nossa tenda”.

 

Já Mestre José Lopes acredita que a proteção à cultura deve ter um caráter punitivo. “Esse encontro é lindo! E acho que tem que ser feito um documento que puna as religiões que invadem a cultura e matam a cultura por questões religiosas. É um crime falar que a cultura do índio, do negro é coisa do demônio”, conclui.

 

Diversidade

 

O Encontro da Diversidade foi realizado através da Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural, para fazer com que segmentos socioculturais da nossa diversidade se encontrem, se conheçam e possam conviver: os grupos e mestres das culturas populares, indígenas, ciganos, representantes do movimento LGBT, idosos, pessoas com deficiência, representantes das comunidades tradicionais de terreiro, imigrantes, produtores da cultura da infância, jovens do movimento hip-hop, pessoas com transtorno mental, mulheres e trabalhadores formais e informais do campo e da cidade.

 

Marcaram presença, também, representantes dos dez países do Mercosul Cultural. Durante o Encontro, aconteceu a primeira reunião sobre as políticas de cultura para a diversidade, e a articulação do bloco sulamericano na implementação da Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade das Expressões Culturais.

 

Queima do Alho

 

A Queima do Alho foi realizada pelas comitivas Água do Peão, de São José do Rio Preto, e Saudades do Corredô, de Novo Horizonte, dos comissários Milton Liso e Bacuri, respectivamente.

 

A típica culinária caipira atraiu curiosos de todo o Brasil, de indígenas a gaúchos. Aliás, muita gente achou que se tratava de comida do sul do País; foi o momento de explicar o processo de intercâmbio cultural promovido, sobretudo em Barretos, que recebeu o primeiro frigorífico de escala industrial da América Latina em 1913, atraindo pecuaristas de todo o país; naquela cidade os peões de todas regiões se encontravam, ocorrendo uma mistura que passou a compor o caipira paulista.

 

“Foi uma chance de, além de resgatar esse saber fazer cultural e mostrá-lo aos outros povos, valorizar o pessoal que larga seus lares e vem aqui manter viva a chama da cultura caipira”, comenta Edemilson do Vale, o “Sete”, presidente da AGCIP.

 

Pelos Independentes, além da passagem do presidente, Marcos Murta e do diretor financeiro, Marcelo Oliveira, permaneceram com a caravana da Queima do Alho um dos coordenadores desse concurso culinário de Barretos, Dorival Gonçalves e o Independente Samir Karnib; pelo Ministério da Cultura, passaram Américo Córdula, secretário de Diversidade e Identidade Cultural (órgão que organizou o Encontro), junto a seu diretor, Ricardo Lima; também presente esteve o ator Sérgio Mamberti, presidente da Funarte, e Marcelo Gentil, do Instituto Empreender, responsável pela excelente logística do Encontro.

 

A Queima do Alho foi uma atração à parte, atraindo artistas e convidados nas três noites em que foi servida: ao todo, aconteceram mais de 3 mil degustações; sem contar as ações de diversidade, com participação do indígena Werá Kwarai, que cantou sertanejo junto a Guilherme Tenório, com exceção da parte da canção em que cantou em Guarani.

 

Ao final, todos milhares presentes se confraternizaram ao som da ciranda tradicionalíssima de Lia de Itamaracá (PE).

 

“Foi emocionante em vários momentos: ouvir mestres de todo o país, não gente dita famosa, mas sim os verdadeiros homens e mulheres da cultura, que carregam o piano das tradições. Fantástico!”, destaca Luiz Felipe Nunes, diretor da AGCIP que participou de duas mesas temáticas.

 

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